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A fé, o sexo e nossa opinião

Edir Macedo e Bento XVI: opiniões contrárias sobre aborto, preservativo, homossexualidade...

É difícil escrever sobre religião despido de qualquer conceito ou preconceito. É difícil falar da fé sem ser acusado de leviano algumas vezes, algumas vezes de fanático. Afinal de contas, a fé é o que nos move depois da linha tênue que divide o nosso entendimento do inexplicável. Quando digo “nos move”, refiro-me a todos os seres pensantes, inclusive os ateus.

Não sou uma pessoa religiosa, apesar de ter minha fé. Mas já aviso ao leitor incauto que isso não me confere toda a independência do mundo para tratar de religião, sobretudo quando o assunto também se refere ao sexo, tema polêmico, ainda mais no campo da fé.

O que é sexo para você? Instrumento da reprodução humana, talvez? Um poço de prazer carnal, por que não? A concretização do amor entre duas pessoas, quiçá? Eu poderia inventar um sem-números de motivos pelos quais uma pessoa se entrega a outra na cama ou em qualquer outro lugar. Nenhum é mais ou menos verdadeiro que outro. Todos fazem sentido em algum momento.

E como a igreja lida com isso? Como nós lidamos com isso em relação à religião? Tabu.

Todo mundo tem uma opinião sobre sexo. Por esse motivo, discuti-lo sob a ótica da fé é uma boa maneira de discutir também o posicionamento das igrejas em relação a este e qualquer outro tema. Afinal de contas, acatar esses posicionamentos sem discuti-los é deixar que alguém tenha opinião por você.

A Igreja Universal do Reino de Deus, a maior entre as neopentecostais (consideradas mais radicais), inaugurou um movimento que pretende se posicionar contra as opiniões da Igreja Católica e, de quebra, abocanhar a fatia de fiéis que discordam das posições claras e ultrapassadas adotadas pelo Vaticano.

O catolicismo , por exemplo, recrimina o uso de preservativo e o papa Bento XVI deixou isso claro quando disse que a camisinha não deve ser usada nem no combate à Aids, contrariando a Organização Mundial da Saúde (OMS). Por outro lado, o líder da Igreja Universal, bispo Edir Macedo, se posiciona a favor: “No início do meu casamento, a Ester fez uso da pílula anticoncepcional durante quase um ano. Mas sentiu-se muito mal e teve de interromper. Como não havia a vasectomia, parti para o sacrifício: comecei a usar camisinha.”

Aborto é outra questão que coloca as duas igrejas em lados opostos. O Vaticano condena, claramente; a Universal defende o aborto a colocar uma criança no mundo sem recursos para criá-la dignamente. O catolicismo é contra a homossexualidade; Edir Macedo o tolera em seu blog. As duas igrejas tomam suas posições com base nos ensinamentos bíblicos e na palavra de Deus. Ambas se valem do divino e do inexplicável para tomar posições completamente opostas que dividem e disputam os fiéis. Ou seja: trata-se de interpretação.

Então por que nós mesmos não interpretamos a nossa fé e tiramos nossas as próprias conclusões? Como diz minha mãe: “Tua cabeça, teu guia”. Por outro lado, tirar conclusões sozinho significa não amadurecer as próprias ideias conhecendo discursos diferentes e variados. Isso é um poço de questionamentos, que voltam ciclicamente contra nós mesmos, chamado livre arbítrio. Até o bispo Edir Macedo já faz uso do livre arbítrio para não espantar parte dos fiéis com posições claras, como acontece com a Igreja Católica. Uma mulher chamada Amanda perguntou ao bispo, no blog dele, se sexo oral era pecado. Eis a reposta:

“A Palavra de Deus não fala nesse assunto em detalhes, mas como já escrevi num blog passado, tudo depende da sua fé. Se a sua consciência dói, é porque é pecado para você. Se não, é porque não é”.

Qual é a sua fé?